Associação Pak entrevistas
 

  Victor 

  Militar 

  
 
Desde criança sempre tive muita vontade de praticar artes marciais... 

Desde pequeno sempre gostei das artes marciais. Difícil dizer o porquê. O fato é que entre os 9 e os 13 anos eu pratiquei Karatê, mas acabei abandonando após uma mudança de professor. Assim, eu sempre tive muita vontade de praticar artes marciais, em especial o Kung Fu, que até onde eu sabia, parecia ser a arte mais completa e antiga de todas.

Meu irmão já treinava na Assoc. Pak, e acabou me levando também... 

Após deixarmos o Karatê, meu irmão e eu passamos muitos anos pensando em procurar academias de Kung Fu. Foi somente no segundo semestre de 2000 que ele encontrou a Pak Shao Lin. A Academia Morioka, onde o então, Si Pak Avançado Robson ministrava suas aulas, era muito perto de casa. Foi assim que o Edgar entrou para a Pak. Meses depois, ele me levou para participar de um treino. Lembro me muito bem de que estávamos às vésperas de algum torneio de força e resistência, e assim, eu tive que treinar especificamente para isso naquele dia. Gostei tanto que já no dia seguinte estava de volta aos treinos. No começo eu treinava junto com as crianças no Clube Cassasp, pois eu estava estudando à noite. Foi assim que entrei para a Pak Shao Lin.

Os treinamentos na Pak? 

Eu considero muito completos os treinamentos da Pak. Preparamos o físico, o alongamento, as técnicas, os katis, os combates, os relaxamentos e meditações etc. É sempre muito intenso, e geralmente não dá tempo para treinar tudo o que aprendemos no Kung Fu. E é justamente isso o grande barato da nossa arte marcial. São tantas técnicas e exercícios diferentes, que sempre tem coisa nova para aprender e treinar, o que não deixa o treino ficar repetitivo.

Ah! O Meu professor...! 

O Si Fu Robson é uma pessoa maravilhosa. Ele sempre tem muita paciência com a gente e sempre cobra o melhor de todos nós. O estímulo dele é fundamental para nossa evolução. Além de tudo, ele é um sonhador. Quando o conheci, as aulas na Cassasp tinham apenas dois garotinhos e dois adultos treinando. Naquele tempo treinávamos no salão de festa do clube, onde o espaço é gigante, mas as condições estão longe das ideais. Hoje, três anos depois, já temos uma sala só para a gente. Cheia de equipamentos e decorada com fotos nossas. Em 2001, o Robson tinha dois ou três tarjas amarelas. Hoje, somos mais de meia dúzia de camisas amarelas. Eu tive a oportunidade de acompanhar boa parte da evolução do Si Fu Robson como professor. Observei de perto o quanto ele evoluiu não somente nas artes marciais, mas também na arte de ensinar. Estive com ele em boa parte dessa trajetória desde os primeiros alunos até uma grande academia com mais de 50 alunos. E o mais legal disso tudo, é que não são somente 50 e tantos guerreiros Shao Lin, mas sim, 50 e tantos amigos. E esse clima de amizade vem do professor, sem dúvida alguma, nosso grande amigo Robson, Carioca, Si Fu ou seja lá como for. É muito bom saber que participei da concretização desse sonho e que ele ainda tem muitos outros para todos nós. Tenho também que destacar o Mestre Gilmar, os Si Paks Willians e Renato, assim como meu irmão, que também sempre foram pacientes comigo e me ensinaram bastante. E, é claro, também sempre foram e sempre serão meus amigos.

Na academia o ambiente é de muita amizade e respeito... 

Acho que já disse tudo, né? O ambiente é de muita amizade. É claro que as vezes ocorrem alguns exageros. Excesso de conversa e de brincadeira. Os mais antigos nem sempre são respeitados como deveriam. Mas nem tudo é perfeito. O legal é que o pessoal sempre se diverte bastante, se ajuda bastante e todos aproveitamentos bem o tempo.

Na dá para comparar nosso treinamento... 

Não dá para comparar o treinamento Shao Lin com mais nada. Quando fazemos um kati e terminamos cansadíssimos, as pessoas estranham muito. Como cerca de um minuto de exercício pode cansar tanto? Só nós mesmos sabemos o quanto aquilo cansa. E é sempre assim. Todo final de treino saímos exaustos, suados, acabados. Quando não é assim, sentimos que o treino não foi bom. O importante é que esse cansaço do corpo representa um enorme descanso da mente e do espírito, que se sentem mais fortes e aliviados. O fato é que o nosso treinamento nos dá um preparo físico e uma força excepcionais. Mas isso só para aqueles que treinam sério, obviamente.

O legal é estar sempre aprendendo coisas novas... 

Como já disse, é tanta coisa que é difícil falar. Aprendi de tudo um pouco. Combate de solo, acrobacia, shao lin livre, katis etc. Isso é o mais legal: estar sempre aprendendo coisas novas. E essas técnicas dão muita confiança a gente.

Kung Fu é muito mais do que luta... 

Nesse ponto eu acredito que faltam conversas a respeito na Pak. Mesmos nos filmes, esses artistas marciais se destacam não somente pela força, técnicas etc., mas sim, principalmente pelo caráter, pela postura diante das dificuldades, pela persistência. Acho que deveríamos falar sobre isso com maior freqüência. Quem sabe deveríamos ler alguns textos que nos ajudassem a ter mais sabedoria. Olhando para os companheiros percebo que nem todos percebem que o kung fu é muito mais do que luta. Eu treino kung fu, porque o kung fu me dá amigos, me dá saúde, me dá a oportunidade de fazer algo que me dá prazer. Se depois isso vou ser bom na luta ou não, eu não quero nem saber. Prefiro continuar apenas treinando.

Uma comparação entre o antes e o depois... 

É sempre muito difícil falar de nós mesmos. Eu sempre fui muito crítico comigo mesmo, por isso acho que tenho sempre muitos defeitos, como a preguiça, a intolerância, o pavio curto etc. Após esses anos de treino, além de ter melhorado meu alongamento, equilíbrio, resistência, força etc., aprendi a lidar melhor com meus defeitos. Não os corrigi ainda e é provável que nunca consiga. Mas hoje tenho mais controle sobre eles do que tinha três anos atrás.

Espero me formar no kung fu! 

Mas não tenho pressa! Nos próximos anos pretendo conseguir apenas conciliar trabalho, faculdade, namoro, família, etc., com o kung fu. Como já disse, gosto muito de tudo isso e não quero me afastar. Não mais como já tive que fazer no ano passado. Assim, espero me formar no kung fu. Não tenho pressa. Sei das minhas limitações de treino decorrentes de trabalhar, estudar, namorar etc. Desta forma, não importa muito o tempo que vai levar. Farei o possível para ser o mais breve. E feito isso, no futuro, com mais estabilidade, quem sabe eu possa me dedicar a ensinar um pouco de tudo isso que aprendi a alguém. É apenas um sonho. Uma meta distante. Quem sabe um dia.

As lições do kung fu... 

Às vezes a gente se pergunta se, numa briga de rua, nossas técnicas iriam mesmo ter efeito. Nos indagamos se os treinamentos nos tornaram mais parecidos com aqueles grandes lutadores dos filmes. Porém, acredito que a resposta a essas perguntas não têm a menor importância. Descobri que não quero treinar kung fu para lutar bem. Quando tento fazer uma acrobacia, por exemplo, e não consigo, tenho pela frente a opção de desistir ou de persistir. E quando toma a decisão de tentar de novo até conseguir, aprendo a ser persistente e a valorizar a derrota, pois é ela que dá tanto sabor à vitória. Quando fico nervoso com alguém e tenho vontade de partir para a porrada, a tentação de testar as técnicas é muito grande. Mas quando consigo me controlar e decido resolver com a conversa, percebo que poderia ter perdido um grande amigo ali, ou que a briga não teria resolvido meu problema. Assim, o kung fu tem me ensinado o valor do autocontrole e do diálogo. Porém, quando não consigo me controlar e ofendo alguém, seja com atos ou com palavras, aprendo qual é o peso do arrependimento e o poder das desculpas. Também aprendi nos treinos a valorizar o medo. Ele não é nosso inimigo. Quando sentimos medo, é nossa sensibilidade e inteligência que está nos advertindo sobre o perigo. E se não sentimos medo, na maioria das vezes é porque somos irresponsáveis. O grande ensinamento do kung fu é que o medo não deve ser extinto, mas sim controlado e usado para nos dar mais força. E de todas as lições que poderia citar aqui, talvez a mais importante seja a humildade. Muitas e muitas vezes me senti melhor do que alguém. E em todas essas ocasiões quebrei a cara. E muitas vezes percebi que tinha mais dificuldade do que os outros para fazer certas coisas. Nessas ocasiões desejei que essas pessoas fossem humildes comigo. Isso tudo me ensinou que todos temos limitações e talentos. Fazer algo melhor do que alguém não nos faz melhor do que essa pessoa. O que nos diferencia é a vontade de conseguir. Assim, percebi que melhor do me sentir superior a alguém é aprender algo com essa pessoa e também tentar ensinar algo a ela. Resumindo, além da amizade, das técnicas e tudo o mais, o kung fu me ensinou e me deu muitas coisas bem mais valiosas do que as técnicas de luta. E é justamente por causas dessas lições que quero sempre treinar kung fu.

(Arquivos da Associação Pak Shao Lin de Kung Fu )

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